9 de dezembro de 2011
Na sua estante: deveras promissor
#096: Deveras Promissor
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Ele ouviu os passos apressados pouco antes de uma sombra se lançar sobre ele. Levantando a cabeça, André deu de cara com a irmã esbaforida.
- Eu sinto muito! – Bia começou – Vim assim que vi suas ligações e a mensagem.
Ele arqueou uma sobrancelha, levantando-se da cadeira com um ar cansado.
- O que você estava fazendo afinal? Eu te procurei como um louco lá dentro.
Se estivesse em outro estado de espírito, André teria notado o súbito rubor que apareceu no rosto da irmã.
- Você acha mesmo que eu teria ouvido o celular tocando com todo aquele barulho? – Bia respirou fundo, dando de ombros – De toda forma, isso não interessa. Como ela está?
Soltando um suspiro, André deixou-se cair novamente sentado.
- Engessando o pé. Parece que trincou o osso. – ele esfregou os olhos – Eu estou tão ferrado...
Bia cruzou os braços.
- Por que você estaria ferrado? É a Júlia que está engessando o pé, não? E, pelo que entendi da sua mensagem, foi um acidente, não é? Quer dizer, você não caiu em cima dela de propósito.
- Isso não vai vir ao caso quando ela for numa delegacia da mulher e disser que o ex-namorado quebrou o pé dela.
Os olhos da garota se arregalaram.
- Ex-namorado?
- Oh, merda...
- Ela não sabia?
Os dois irmãos se voltaram para o corredor, onde Júlia acabara de aparecer, equilibrando-se num par de muletas, a perna engessada até o joelho.
Beatriz encarou o irmão, que voltara agora o olhar para o chão, e a ruiva, com uma expressão pensativa.
- As coisas fazem mais sentido agora. – ela murmurou meio que para si mesma – Bem, Júlia... Podemos dar uma carona para você até a delegacia?
André voltou-se para a irmã, tão surpreso que ficara mudo. Júlia estreitou os olhos.
- Delegacia?
- Bia, eu acho que você...
- É que o André acredita que você vai denunciá-lo por algum tipo de lesão corporal ou coisa do tipo. – a moça respondeu alegremente.
- Bia, eu realmente acho que você devia aprender o momento de ficar calada. – ele observou, antes de se virar para Júlia – Eu sinto muito, Júlia, eu...
- Você realmente pensou que eu iria descer tão baixo quanto te acusar falsamente por um acidente? – a ruiva o interrompeu – Sério, André?
- Eu não pensei que...
- Realmente, você não pensa, se acredita que eu ainda estou tão fascinada com a sua pessoa que meu mundo deve girar em torno do seu umbigo. Cresce, André! – ela praticamente cuspiu o nome dele – Eu posso ter tido minhas diferenças com você, mas você não é importante o suficiente nem para ter meu desprezo, quanto mais para que eu minta e cometa um crime por sua causa.
Júlia não esperou para ter uma resposta, saindo meio claudicante com suas muletas em direção às portas da emergência. Beatriz a observou por alguns segundos, para então se postar diante do irmão, que permanecia de boca aberta.
- Não se preocupe, eu acho que ela não é tão indiferente.
- Eu não...
- Ela certamente parece te desprezar. Mas não o suficiente para cometer um crime, claro.
- Bia, eu acho...
- E, se eu fosse você, fechava a boca antes de falar mais alguma besteira... e corria atrás da Júlia, antes que ela caia e se machuque mais.
André fez uma careta, mas não se deu mais ao trabalho de responder, obedecendo a última sugestão da irmã. Beatriz, por sua vez, apenas sorriu.
Aquilo estava parecendo deveras promissor...
A Coruja
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Feliz Natal e ano novo!!! Quero que seus dias sejam cheios de açúcar e doçura!! A sua felicidade e minha tambem irmanzinha!! Espero estar sempre junto de voce até nos momentos difíceis ou se nos separarmos de localidade. Lembre- se: vai dar tudo certo enquanto voce estiver comigo e eu com voce!!Carol ;)
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