4 de novembro de 2011
Na sua estante: fantasias
#090: Fantasias
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Dani ergueu os olhos brilhantes ao ouvir o comunicado de Beatriz.
- Fantasias?
Estreitando os olhos ao notar o tom de franco deslumbramento da prima, Sofia fechou a porta da geladeira, a colher do iogurte enfiada na boca, e encarou as duas.
Bia sorriu calmamente sentindo, não pela primeira vez, vontade de colocar Dani no colo e começar a brincar de boneca (e não é preciso ir muito longe para descobrir quem seria a boneca). Davi, que observava a cena com um meio sorriso, debruçou-se sobre a mesa para dar um peteleco de leve na orelha da irmã.
- Parabéns. Você acaba de criar um monstro, Bia.
Beatriz cruzou os braços, fechando os lábios em bico.
- O que foi que eu fiz?
- Posso fazer as fantasias de vocês? – Dani pediu meigamente, sem se importar com mais ninguém na cozinha, completamente absorta nas idéias que já flutuavam em sua mente.
Sofia afinal despregou a boca da colher.
- Você quer dizer desenhar, não?
A garota balançou a cabeça.
- Eu costuro. Eu faço. Deixa eu fazer? Por favor?
- Você vai costurar onde? Na mão? Três fantasias inteiras?
- Se a terceira fantasia é para mim, subtraiam ela. – Davi se endireitou – Eu não vou poder ir. Tenho plantão.
A prima encarou-o desconfiada.
- Você não faz outra coisa da vida além de dar plantão? Onde está sua juventude? Sua sede de rebeldia?
- No mesmo lugar em que você guarda as suas enquanto escuta Chopin às cinco da madrugada. – ele retrucou simplesmente – E não se preocupem, a Dani se vira... Ela vai achar um lugar para costurar. Dêem logo permissão para ela, ou ela vai ficar choramingando pelos cantos...
- Ei! – a pessoa em questão despertou de seu transe para fixar sobre o irmão mais velho uma careta – Eu não fico choramingando pelos cantos...
Davi ergueu as mãos em sinal de rendição.
- Não está mais aqui quem falou.
- Ok, peraí, peraí, peraí... – Beatriz interrompeu o momento fraterno, voltando-se para a caçula – Você costura? Além de desenhar maravilhosamente, você ainda costura? Que outros talentos secretos você tem, Dani?
- Hum...
Sofia deu um meio sorriso ao perceber o rubor que subia pelo rosto da prima.
- Somos uma família muito talentosa.
- A conversa ainda não chegou no salão de música, Sofia. – Beatriz fez um gesto com a mão de descaso, enquanto se debruçava para junto de Dani – Você acha que pode costurar para mim um vestido estilo renascentista?
- Renascença... Da Vinci... – os olhos de Dani voltaram a brilhar em devaneios.
- Um monstro, eu disse. – Davi deu de ombros – Vocês criaram um monstro.
(mais tarde, naquele mesmo dia, depois que Beatriz já se fora e Sofia se trancara com suas composições...)
- Ei, Dani?
Erguendo a cabeça do caderno de desenhos, a jovem fitou o irmão apoiado contra o umbral da porta de seu quarto.
- Oi?
- Mudei de idéia... você acha que pode desenhar uma fantasia para mim também?
Ela abriu um sorriso mostrando quase todos os dentes.
- Claro! O que você quer ser?
- Você pode decidir... mas, vamos combinar uma coisa, certo? – ele deu um meio sorriso enigmático – Ninguém deve saber que eu vou para a festa por enquanto. É segredo nosso, certo?
Dani apenas assentiu.
- Certo.
A Coruja
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