26 de novembro de 2010

Na sua estante: 'Todas as cartas de amor são ridículas'





#038: 'Todas as cartas de amor são ridículas'
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- E então, qual será nossa próxima aventura em termos literários? – Sofia perguntou, enquanto largava a mochila sobre a mesa, voltando-se então para Beatriz.

- Não tenho bem certeza. – a outra respondeu, colocando sua bolsa no sofá – Primeiro de tudo, você precisa me alimentar. Depois eu penso sobre o que vamos ler esse mês.

Sofia revirou os olhos.

- Às vezes eu tenho vontade de mandar uma carta para a tia, dizendo que você está morrendo de fome aqui porque o André não te alimenta. Na verdade, eu desconfio que você ultimamente só vem me visitar para filar o almoço.

- Bem... – Beatriz abriu um sorriso no estilo “o gato que comeu o canário” – Não posso dizer que seja culpa do meu irmão o fato de eu ser um desastre na cozinha. E também não é justo que eu espere que ele faça meu almoço todo dia, especialmente quando posso simplesmente comer no restaurante da faculdade. Mas é muito chato almoçar sozinha. De qualquer forma, minha mãe está muito ocupada para você ainda mandar uma carta para ela reclamando porque tem de me alimentar.

Sofia apenas suspirou, balançando a cabeça.

- Onde é que seus pais estão agora, mesmo?

- Bem, minha mãe deve estar em Nova York, já que ela está desenvolvendo um trabalho com o resto da nossa comissão diplomática na ONU. E meu pai está enfiado em algum buraco no meio da Amazônia, procurando cerâmica quebrada.

- Eu não sei o que é pior, meu pai morando aqui, mas vivendo em plantão na base ou se seus pais sempre viajando. Como diabos é que eles conseguem ser um casal com sua mãe sendo uma diplomata e seu pai sendo arqueólogo?

- Eu acho que é justamente porque eles passam tanto tempo separados que o casamento deles dá tão certo. – Beatriz sorriu, saudosa – Considerando o fato de que os dois têm temperamentos para lá de fortes, se vivessem juntos sempre, a essa altura já teriam encontrado maneiras de se matar. Eu, pelo menos, sempre tenho vontade de enforcar minha mãe quando ela começa os discursos dela. Ela tem esse problema de sempre achar que sabe de tudo e está sempre certa.

- Sua mãe sempre sabe de tudo e está sempre certa, Bia. – Sofia respondeu – Eu nunca vi uma pessoa para conhecer de tantos assuntos diferentes. Ela é a única pessoa que eu conheço que pode pular de uma conversa sobre música barroca para mitologia chinesa num mesmo fôlego.

- Que seja. – Beatriz retrucou, jogando os cadernos que ainda estavam em seus braços no sofá junto com a bolsa – Eu estou com fome. Quero ver o que Dona Vitória fez para o almoço de hoje com aquelas mãos de fada dela...

Ela piscou os olhos ao perceber que Sofia já não prestava atenção nela, mas tinha a atenção fixa em alguma coisa no chão. Antes, porém, que ela pudesse se dar conta do que estava acontecendo, a amiga já tinha praticamente voado para cima dela, quase empurrando-a no processo de pegar o que quer que tinha chamado sua atenção.

Foi só tarde demais que Beatriz percebeu o quê, exatamente, estava agora nas mãos de Sofia. E, quando isso aconteceu, todo o sangue que havia em seu rosto desapareceu.

- Você... – Sofia levantou os olhos do papel para encarar a amiga – Isso é uma carta de amor, Bia?

A jovem apenas assentiu com a cabeça timidamente. As duas se encararam em silêncio por alguns instantes, até que Bia respirou fundo, estendendo a mão.

- Posso guardar?

Sofia assentiu devagar, entregando a carta para a outra.

- É um belo poema.

- Eu também acho.

- Você quer conversar sobre isso? Quem é esse Dante?

Dessa vez, Beatriz apenas meneou a cabeça. Sofia a encarou com curiosidade.

- Tudo bem então. Mas, se quiser conversar, sabe que estou aqui para isso, não?

- Eu sei, Sofia. Obrigada. Só, por favor... não fale nada sobre o assunto, especialmente na frente do meu irmão. André vai me infernizar por causa disso. – Beatriz respondeu com um sorriso tímido – Você pode agora me alimentar? Eu vou ter um treco aqui já, já.

- Ok, sua morta de fome... vamos indo... – Sofia riu – Mas um dia desses, você ainda vai ter que me dar os detalhes dessa história.

- Um dia...

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A Coruja


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