15 de maio de 2015

Heróis de Papel - Capítulo 01

Ísis: Que furem os tambores, a Rainha tem um decreto a fazer!!

*cornetas soam*

Opa, quis dizer, que toquem as cornetas...


Lulu: Então que até pensei em perguntar que tambor tu vais furar, mas acho melhor ficar quieta, não é mesmo?

Ísis: Ah! Tá explicado por que foram as cornetas a serem tocadas e não os tambores...

Lulu: Enfim, estamos de volta com mais uma novidade dentro das comemorações de seis anos do Coruja. Já faz um tempo - acho que desde ano passado, que mencionei que Ísis e eu estávamos com as mãos na massa em um projeto. Pois bem, está na hora de apresentá-lo.

Ísis: Em minha defesa, ela usou as palavras mágicas para me atrair pra essa armadilha de elefante.

Lulu: Não faço idéia do que você está falando. Não atraí ninguém para armadilha nenhuma. Sou apenas uma pessoa muito... persuasiva.

Seja como for... na tradição de Na sua Estante, apresentamos hoje a vocês nosso novo folhetim semanal! Heróis de Papel é um romance epistolar e a cada semana - toda sexta-feira! - teremos uma (ou mais) cartas que seguem a história dos nossos correspondentes. Mais que isso não posso dizer sem entregar o ouro... Esperamos que gostem e lembrem 'comentários = amor'. Fiquem agora com o primeiro capítulo!



Capítulo 01

Final de Agosto (Ano 0)

Alice,

Começo confessando que nunca antes tentei escrever uma carta de amor. Não fazia muito sentido, considerando que morávamos na mesma rua e qualquer coisa que eu tivesse de dizer a você, eu poderia fazê-lo pessoalmente. Por isso, peço desculpas se não for muito bom nisso, mas ao menos estou tentando, não é mesmo?

É difícil colocar em palavras a falta que você me faz. A vida inteira fomos companheiros, amigos de infância e confidentes – você foi minha âncora, a única coisa capaz de me impedir de ficar à deriva quando terminei de enterrar a família que me restava no mundo. Eu nunca conheci uma existência sem você, mesmo antes de desejo se somar ao universo de sentimentos que você me desperta.

É mais que estranho de repente me virar para o espaço que você sempre ocupou ao meu lado e não encontrá-la. Ainda que seja também um alívio saber que você está longe desse lugar, que enquanto estivermos lutando aqui, estaremos protegendo os que deixamos para trás. Protegendo nosso futuro, um passo de cada vez.

Não houve batalhas desde que cheguei ao acampamento. Vi mais ação ao longo do treinamento do que aqui. Pode parecer um alívio, mas a verdade é que a espera causa mais ansiedade do que a ação. Os oficiais estão sempre em estado de alerta, sirenes tocam de madrugada nos arrancando do sono exausto para exercícios e alertas falsos. A chuva constante transforma tudo em lama e por mais que tentemos nos abrigar, o vento frio penetra por todos os vãos, e a sujeira parece se multiplicar ao nosso redor.

Nenhum dos recrutas que estiveram comigo no treinamento veio para o mesmo acampamento em que estou. Não que tenha havido tempo suficiente para criar vínculos, mas eles me eram ao menos mais familiares que os companheiros que tenho agora. A maior parte deles é mais velha e mais endurecida do que eu. Mesmo entre os outros recrutas que vieram se juntar ao pelotão comigo, sou o caçula.

Posso imaginar você dizendo que eu deveria tentar fazer um esforço. Que, se eu tentar me abrir, eles vão me receber de braços abertos. Mas você também sabe que isso nunca deu muito certo para mim. Eu provavelmente não teria sobrevivido à escola se não tivesse você para acalmar os ânimos e usar da sua graça social, enquanto eu enfiava a cara no estudo e nos trabalhos de meio período, sem tempo ou paciência para me misturar com nossos pares.

Mas você sempre foi a melhor parte de mim. Isso é algo que nunca neguei. E embora eu sinta dolorosamente a sua falta, posso ao menos dizer para mim mesmo que estar aqui significa proteger você, proteger os sonhos que sonhamos para nosso futuro. É mais um passo no caminho para realizarmos tudo aquilo que planejamos.

Amo você,

Alex.

Início de Novembro (Ano 0)

Alice,

Receio que minha primeira carta para você tenha se perdido no caminho, ou talvez tenha sido a sua resposta que tenha se perdido. O pessoal responsável pela correspondência disse que é algo comum de acontecer, de forma que decidi tentar escrever de novo.

As coisas mudaram por aqui desde que escrevi pela primeira vez. As chuvas passaram e, em seu lugar, há um vento cortante já anunciando o inverno. Devo dizer que a idéia de passar os meses mais frios do ano entrincheirado não me agrada nem um pouco, mas o que se pode fazer?

Os combates pelos quais passei me fazem agora ansiar pelos dias em que tínhamos de lidar apenas com espera e ansiedade. O barulho de morteiros, os gritos, as explosões, tiros no meio da noite... Pensamos que estamos mais ou menos preparados para a realidade da guerra ao chegarmos aqui, mas não estamos.

O médico do pelotão me tomou por aprendiz ao descobrir que pretendo estudar medicina – e que tenho mãos suficientemente firmes. Por um lado, isso significa mais um passo na direção certa. Por outro... as coisas que vejo todos os dias às vezes fazem com que eu me questione se é isso mesmo que quero.

Sei o que você vai me dizer. Ser médico é algo com que sonho desde que tenho consciência de mim mesmo. E, se por um lado, toda vez que posso administrar algum alívio aos soldados que estão aos meus cuidados, sinto-me contente e satisfeito comigo mesmo por fazê-lo; por outro, na maior parte do tempo, o que faço não é nem de longe o suficiente para salvá-los.

Segurar a mão de um homem em seus momentos finais, delirante de dor, sem nada poder fazer, é angustiante. Eu deveria saber disso, uma vez que já fiz o mesmo com minha mãe. Mas então, você estava lá para segurar a minha mão também. E agora... agora eu estou sozinho, tendo de lidar com as minhas próprias falhas.

Todos os livros e toda a teoria do mundo não são o suficiente. E agora que estou frente a frente com essa realidade, percebo o quão arrogante fui durante todo esse tempo.

Sei que se estivéssemos juntos, você saberia exatamente o que dizer para me fazer seguir em frente. Mas, a despeito do desânimo, não vou desistir. Posso não ser o suficiente, mas isso não significa que não esteja ajudando, não é mesmo?

Amo você,

Alex.

Meados de Dezembro (Ano 0)

Alice,

Faz quatro meses que cheguei aqui e desde então não tive mais notícias suas. Tivemos ontem uma licença de vinte e quatro horas e consegui uma carona até um dos vilarejos sob nossa proteção. Achei um telefone, mas as linhas aparentemente estão todas cortadas. Então... mais uma carta.

Espero que essa chegue logo até você – desconfio que mais dia menos dia, receberei um pacote inteiro de cartas suas extraviadas, entregues talvez em outro pelotão, ou atrasadas, vez que, em tempos de guerra, é dada prioridade às comunicações estratégicas.

O Natal está chegando. Lembre-se de mim quando acender as luzes da árvore, sim?

Sinto sua falta.

Alex.


____________________________________

 

8 comentários:

  1. Romance epistolar! Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaah! *Elise cai da cadeira*

    O último que li foi o Werther (de novo rs) e desde então estou necessitada de mais romances epistolares. Vocês são demais! \o/

    [detalhe: não li ainda, parei na descrição do projeto pra vir aqui surtar na caixa de comentários hahahahahaha]

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    1. Primeira vez que sei de alguém surtando ANTES de começar a ler. ADOREI! <3
      Bom saber.Pode continuar surtando à vontade! ^^
      E muito obrigada por comentar (e por ler)! :D

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    2. Esperando comentários pos-leitura;) agradecemos a preferência huhauhauhuahua...

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  2. Estarei acompanhando! =D
    Só digo uma coisa: não maaaatem esse boy! Tenham em mente que pessoas sobrevivem nas guerras e casam com o amor da vida delas, hein? hauhuahua *prevendo tragédia*

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    1. Então que... Então né? Não posso dizer mais que isso sem revelar... Um bocado de coisas que estão por vir. Mas, Heitor, talvez haja final feliz. Talvez...

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  3. Aproveitei que recebi a atualização dessa semana para vir até o início e lê-lo. Finalmente!

    Sei não mas acho que essa história vai ser triste. OBA! Adoro coisas tristes! rsrsrsrsrs Cartas extraviadas me lembrou muito Diários de uma Paixão.

    Bora ler o segundo folhetim!

    Smacks!

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    1. Oba! Espero que goste tanto de ler a história como gostamos de escrevê-la.

      Reservo-me o direito de não dizer que sim nem que não sobre a história ser triste. Talvez termine em tragédia... talvez termine tudo bem com casamento e pimpolhos. Ou não... quem sabe?

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