12 de dezembro de 2013

Projeto Baudelaire: O Fim

Caro Leitor,

Você provavelmente está olhando para a quarta capa deste livro, ou para o fim de O FIM. O fim de O FIM é o melhor lugar para se começar O FIM, porque, se você ler O FIM desde o começo do começo de O FIM até o fim do fim de O FIM, vai chegar ao fim do fim de suas esperanças.

Este livro é o último de uma longa Série de Desventuras, e, ainda que tenha enfrentado corajosamente os doze volumes anteriores, você não irá agüentar tanta desgraça como uma tempestade bravia, uma bebida suspeita, um bando de ovelhas selvagens, uma gaiola de passarinho gigante e ornamentada, e um segredo de fato assustador sobre os pais dos Baudelaire.

A minha mais solene ocupação tem sido investigar e narrar a história dos órfãos Baudelaire, e finalmente cheguei ao fim. Você provavelmente se dedica a outra coisa na vida, então sugiro que largue este livro imediatamente, para que O FIM não acabe com você.

Com todo o respeito,
Lemony Snicket
E eis que chegamos ao final de mais um projeto – não sei se me entristeço com o fato de que não tenho mais das desventuras dos Irmãos Baudelaire para ler ou se me alegro de conseguir fechar mais um dos meus inúmeros esquemas literários...

Enfim, há ainda outros volumes no universo criado nos treze volumes dessa coleção, mas vou lê-los e resenhar sem obrigação de colocar dentro do projeto, como fiz mensalmente desde dezembro do ano passado.

O Fim, décimo terceiro volume das Desventuras em Série é um encerramento à altura da história. Todos os elementos que nos conquistaram ao longo dessa jornada estão aqui – disfarces, ameaças, crianças inteligentes em apuros, vilões vilanescos... mas, ao mesmo tempo, é um livro completamente diferente daqueles que começaram todo esse rolo.

O início das desventuradas aventuras dos órfãos Baudelaire tinha um certo quê de maniqueísmo, com situações e personagens no mais das vezes totalmente caricatos. Pouco a pouco, esse maniqueísmo – essa ideia de que o mundo é preto e branco – vai se diluindo. Personagens e interesses se tornam mais ambíguos – os próprios heróis da história revelam-se não tão heroicos.

O mundo agora se revela em gradações de cinza. Às vezes, os mocinhos são confrontados a fazer escolhas que não são particularmente morais; e o vilão, que até então era representante absoluto do Mal, ainda que não particularmente arrependido, é capaz de compaixão e empatia e até mesmo de certo heroísmo.

Handler – o nome por trás de Snicket – foi incrivelmente corajoso escrevendo Desventuras em Série - sem medo de tratar as crianças que eram o público alvo da história, como criaturas inteligentes. Ele não se furta a temas espinhosos, é um mestre de jogos de palavras e no encadeamento de mistérios e desafios.

A despeito de esse ser o volume final, nem todas as questões com que nos encontramos ao longo de toda a série são respondidas – e desconfio que elas nunca serão de fato, porque nem sempre temos acesso a todas as respostas. Nem por isso, contudo, ele deixa de ser mais satisfatório ou empolgante.

Mais que qualquer coisa, Desventuras em Série é uma história em que se deve saborear a jornada, os intricados obstáculos que se interpõem diante dos órfãos Baudelaire e a sagacidade e persistência com que eles os ultrapassam, os esquemas cada vez mais mirabolantes do Conde Olaf.

Essa é a genialidade, o tempero com que Snicket/Handler nos brinda. É algo que talvez só seja perceptível de fato numa releitura, na segunda ou na terceira vez em que folheamos páginas já familiares. Mas seja pela primeira vez, seja pela décima, Desventuras em Série não perde o encanto ou o senso de nos deixar de respiração suspensa.

Já estou com saudades...


A Coruja

p.s.: agradecimentos especiais à Angélica, que não apenas me encorajou um bocado quando comecei esse projeto, como também me fez o favor de emprestar os livros.


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2 comentários:

  1. É um prazer imenso pra mim uma leitora bem fuleira indicar/encorajar ou sei lá o quê pra você, é daquelas coisas quando o mestre aprende alguma coisa de um discípulo, e é nesse grandiosidade que ele é mestre. Adoro quando você resenha os livros que eu já li porque acho que consigo entendê-los melhor ou vê-los com outros olhos. Bjs.

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    Respostas
    1. O prazer, acredite, é inteiramente meu. Não apenas pela oportunidade de descobrir esses livros, mas pelo diálogo que acaba existindo entre a gente por causa deles...

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