17 de outubro de 2013

Para ler: A Memória Vegetal

Como é belo um livro, que foi pensado para ser tomado nas mãos, até na cama, até num barco, até onde não existam tomadas elétricas, até onde e quando qualquer bateria se descarregou. Suporta marcadores e cantos dobrados, e pode ser derrubado no chão ou abandonado sobre peito ou joelhos quando caímos no sono
Toda vez que leio alguma coisa que Eco escreveu, sinto-me um bebê engatinhando por aí, sem saber muito bem o que está fazendo e batendo a cabeça várias vezes pelas paredes.

Eco começa esse livro diferenciando entre dois tipos de memória – a orgânica, que é processada pelo cérebro e a vegetal, que nasce com o pergaminho, bem verdade, mas chega ao ápice com o advento do papel. E a partir dessa diferenciação seguem-se páginas e mais páginas de um verdadeiro culto à palavra escrita.

A civilização começa com a linguagem e amadurece verdadeiramente na medida em que a memória deixa de ser aquela passada de geração em geração, oralmente, e passa a ser registrada – passível de ser manipulada, sim, mas com uma maior possibilidade de preservação.

Fazendo referência a outra obra do italiano, A Misteriosa Chama da Rainha Loana trabalha a ficção do que é tratado nos ensaios deste livro: um homem que perdeu a memória busca se reencontrar através da biblioteca da casa de sua infância e é através desses textos (folhetins, romances de capa e espada, histórias em quadrinhos) que ele é capaz de descobrir quem é.

Para variar, mais um livro em que Eco passa páginas e páginas declarando seu amor pelos livros – e nos levando atrás, embasbacados com sua capacidade de encontrar referências e cruzamentos literários em sua vastíssima cultura.


A Coruja


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