19 de outubro de 2013

Para ler: Histórias Extraordinárias

"E, contudo, tudo isso poderia tolerar-se, se não mesmo aprovar-se, pelos loucos foliões, não tivesse o mascarado ido ao ponto de figurar o tipo da "Morte Rubra". Seu traje estava salpicado de sangue, e a ampla testa, assim como toda a face, borrifada de horrendas placas escarlates. Quando os olhos do Príncipe Próspero caíram sobre aquela imagem espectral (que, em movimentos lentos e solenes, como se quisesse representar mais completamente seu papel, rodopiava aqui e ali entre os dançarmos), viram-no ser tomado de convulsões, a princípio um forte tremor de pânico ou repugnância, para logo depois enrubescer-se de raiva."
Não há dúvidas que Edgar Allan Poe é, não apenas um mestre, mas um precursor em seu gênero. Pode-se dizer que foi com ele que nasceu a literatura policial e também dele se deriva muitas das imagens do terror fantasmagórico que ainda assombram imaginações de hoje. Histórias Extraordinárias reúne em seu bojo algumas de suas melhores composições e é uma excelente introdução ao mundo criado por Poe.

Grande parte dos contos (acho que praticamente todos... exceto A Máscara da Morte Rubra) é narrado em primeira pessoa, causando de imediato uma identificação com o narrador – que, aliás, nunca tem nome.

Há algo da sensação de se estar preso em um pesadelo nessa situação – e o estilo de escrita do Poe, o detalhismo e ao mesmo tempo nebulosidade com que ele joga que acentuam essa impressão. É um efeito semelhante ao jogo de luz e sombra dos quadros de Caravaggio, dramáticos, cores vivas e sombras densas, com um único foco brilhante.

Acho que acabei de delirar um pouco em minhas tentativas de comparação, mas... não sei... creio que Poe nos deixe assim, meio delirantes.

É difícil entre tantos clássicos eleger favoritos... eu destacaria Pequena Palestra com uma Múmia, que me fez dar umas risadas meio mórbidas, o soberbo A Máscara da Morte Rubra - cuja composição de cena é perturbadora em sua capacidade de trazer a vida os mínimos detalhes de cores, cheios e sons -; O Gato Preto, com seu extraordinário e fiel felino; o angustiante e ambíguo A Queda da Casa de Usher e a caça ao tesouro de O Escaravelho de Ouro.

De brinde você ainda tem uma rápida aparição de C. Auguste Dupin, o detetive que inspirou a criação de Sherlock Holmes (e de um inteiro gênero literário).

Só um aviso: não leia antes de dormir...


A Coruja


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