15 de janeiro de 2013

Desafio Literário 2013: Janeiro - Tema Livre || O Secretário Italiano

Instantaneamente, a Srta. Mackenzie cobriu a boca, e toda aquela cor recém-descoberta exauriu-se de seu rosto.

- É ele. - cochichou em desespero.

- Ele? - indagou Holmes, examinando o teto apainelado - Sadler?

- Não! - pranteou a moça. -
Ele! - Olhou para nós dois, o terror em cada uma das feições. - O pobre homem que assassinaram aqui, há tantos anos. Ele nunca foi embora, não percebem? - Ela olhou mais uma vez para o teto. - O cavalheiro italiano... esse é o espírito dele, vindo para se vingar.
Já tinha me deparado com esse livro antes, numa lista de pastiches inspirados na obra de Conan Doyle lá no Goodreads. Só que nunca, nem em um milhão de anos, eu teria adivinhado que ele fora traduzido aqui no Brasil – não até, inesperadamente, dar de cara com ele numa prateleira de supermercado.

Descobri que supermercados são excelentes lugares para comprar livros. Nunca mais vou reclamar quando me pedirem para ajudar com a feira...

Fanfarronices minha à parte, vamos ao que interessa.

Sherlock Holmes recebeu um telegrama misterioso de seu irmão, Mycroft. Decodificada a mensagem, há de se preparar para uma jornada a ancestral Holyrood, palácio onde Maria da Escócia teria assistido ao assassinato de seu secretário italiano (que dá nome ao título) por partidários protestantes provavelmente manipulados por Elizabeth I. Tal sangrento palco teria sido escolhido também por revolucionários ligados ao soberano alemão, o imperador Wilhelm II, para atentar contra a vida da rainha Vitória, resultando em duas mortes misteriosas de pessoas ligadas à residência real escocesa.

Mycroft – que posa de burocrata empedernido, mas costuma tomar chá e trocar fofocas com a rainha nas horas vagas – convence o irmão a investigar a (grotesca) brecha de segurança que possibilitou os assassinatos... e Sherlock acaba revelando uma sórdida trama que pode ou não estar ligada ao vingativo fantasma do secretário italiano.

Do momento em que comecei a ler esse volume, não consegui mais largá-lo. A trama é fantástica, muito bem construída no que concerne à investigação de Sherlock. Ficamos um pouco no escuro quanto ao atentado contra a rainha e essa talvez seja a minha única crítica ao livro – é difícil dizer com certeza se ficaram pontas soltas ou se deixar uma parte da verdade no ar se deve ao fato de que a narrativa continua a ser pelo ponto de vista do Watson e ele não teria acesso a certas informações e minúcias políticas.

Tal crítica, contudo, é apenas uma nota de rodapé entre os elogios que tenho para O Secretário Italiano. Carr não apenas me prendeu ao livro: ele me fez mergulhar completamente na trama, ao ponto em que eu estava prendendo a respiração em algumas partes e pulando de susto em outras.

Mesmo nas referências sobrenaturais – e há mais de um fantasma por entre as páginas do livro – não é algo forçado, ainda que não tão sutil quanto eu preferiria. Faz sentido, especialmente se você levar em consideração as crenças de Conan Doyle, crenças essas que influenciariam, quer queira quer não, nas de seu mais famoso personagem.

O melhor de tudo, porém, é o Watson, que está aqui em fantástica forma. Ele não sai a fazer deduções, não tenta ‘usurpar’ o papel do amigo; mas é brilhante em suas intervenções, destaca-se, é mesmo crucial para o desenrolar da ação – e amo quando isso acontece.

Enfim, gostei tanto que quero agora descobrir se há outros livros do Carr lançados aqui no Brasil – e me aventurar neles independente da presença holmesiana. Mais idas ao supermercado são necessárias – quem sabe que outras surpresas posso encontrar por lá, não é mesmo?

Nota: 4
(de 1 a 5, sendo: 1 – Péssimo; 2 – Ruim; 3 – Regular; 4 – Bom; 5 – Excelente)

Ficha Bibliográfica

Título: O Secretário Italiano
Autor: Caleb Carr
Tradutor: Domingos Demasi
Editora: Record
Ano: 2008
Número de páginas: 301


A Coruja


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6 comentários:

  1. Sabe qual parece ser o calcanhar de Aquiles do plot? Guilherme era o neto mais velho da Rainha Vitória. Fez questão de estar presente nos últimos dias de vida da soberana e teve papel importante em seus funerais. Muita gente não o engolia, ele era meio pancada, mas acho absurdo colocá-lo em uma conspiração para matar a velhinha. Os tios, primos, ainda vai. A avó? Nunca!

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    1. O que eu quero dizer é que uma das coisas que mais me irritam é a difamação gratuita de uma personagem histórica, mesmo uma que eu ache bem detestável.

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    2. Pois, pois, isso é uma das coisas que nunca fica clara no livro... o Mycroft diz que não acredita que o Guilherme seja o assassino exatamente porque ele é neto da Vitória, mas a turma do serviço secreto, que tá doida para começar uma guerra, fica forçando a barra e não existe realmente uma resolução desse plot, que é exatamente a crítica que faço ao livro, deixaram essa ponta solta.

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    3. Um... nesse caso, a questão pode fazer sentido. Havia toda essa pressão para que ocorresse uma guerra. Se Mycroft não acredita...

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  2. Acho que devo ir mais ao supermercado também.

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