24 de junho de 2011

Na sua estante: uma imagem vale mais que mil palavras





#069: Uma Imagem Vale mais que Mil Palavras
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Ele estava exausto. Mas era um bom tipo de exaustão. O tipo de exaustão que decorria de um trabalho bem feito. De ter cumprido com suas obrigações. De fazer exatamente aquilo que ele queria fazer.

Abrindo a geladeira, observou as opções disponíveis para o seu café da manhã. Ou lanche da madrugada, a se considerar que ele estava se preparando para ir dormir, exatamente ao mesmo tempo em que o sol começava a sair.

Água, suco de procedência duvidosa, uma caixa de leite desnatado... Bem, na dúvida, uma xícara de leite quente era, muito provavelmente, sua melhor escolha.

Agora só precisava encontrar a leiteira. Detestava esquentar qualquer coisa no microondas. Nunca ficava inteira e igualmente aquecido.

Dez minutos depois, o leite estava no fogo e só restava a Davi esperar. Ele puxou a cadeira e se sentou distraído, para logo em seguida perceber que se sentara em algo que não era bem o assento.

O caderno de desenhos da irmã.

Davi deu um meio sorriso, abrindo a capa e logo começando a folhear, observando o óbvio talento da caçula. Ele não podia deixar de sentir orgulho, ainda que o espírito artístico de Dani nem sempre fosse uma qualidade muito apreciada na família.

Particularmente da mãe, que achava tudo aquilo uma grande perda de tempo uma vez que – nas palavras dela mesma – não havia sentido em apenas observar e capturar a vida em desenhos, sem desejar participar dela.

Às vezes, Davi se preocupava um pouco com o jeito distante da irmã, que parecia desconectada da realidade, vivendo em um mundo à parte que apenas ela podia enxergar. Desde que tinham se mudado, porém, ela parecia ter saído um pouco de sua concha. Especialmente ao contato com Sofia, que, afinal, tinha uma sensibilidade e espírito muito semelhantes aos de Dani.

Ele chegou ao último desenho... e estreitou os olhos, surpreso.

Havia tal vivacidade nos traços, no sorriso, no olhar... A maneira como ela encarava, com tanta franqueza... a expressão que tanto denotava um jeito traquinas quanto inocência...

O esboço estava ao lado de outro, cuja face era suficientemente familiar. A comparação era inevitável e onde o rosto de Sofia denotava uma tranqüilidade quase melancólica, uma leveza translúcida, o outro parecia prestes a começar a rir – e talvez pular ou mesmo dançar no ar.

O título da ilustração no alto da página vinha bem a calhar: ‘sol e lua’. Sua irmã era boa para imaginar contrastes como aquele.

Foi nesse preciso momento que o leite ferveu, derramando-se no fogão.

- Oh, droga!

Ele pulou da cadeira, desligando o fogo e tentando salvar alguma coisa de seu ‘lanche’; o caderno agora completamente esquecido em cima da mesa.

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A Coruja


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