5 de fevereiro de 2010

Prosa & Poesia (Especial dia dos namorados) - Parte I: As flô de Puxinanã


Primeiro e antes de mais nada, eu gostaria de choramingar um pouco porque ninguém comentou diretamente o último capítulo de Ases. Isso me deixa muito triste e, talvez, eu tenha um bloqueio literário e não consiga mais escrever.

Então, como o fato de não conseguir escrever me deixa fisicamente doente, façam sua boa ação do dia e, poooooooooorrrrrrrrr favooooooooooorrrrrrrrr, comentem! Não deixem pobre Lulu tão carente...


Em segundo lugar... Daqui a pouco mais de uma semana, no dia 14, é o dia de São Valentim, data em que boa parte do mundo comemora o Dia dos Namorados (mas não no Brasil, onde somos devotos de Santo Antônio).

Pequena hagiografia de São Valentim, direto da wikipédia:



Durante o governo do imperador Cláudio II, este proibiu a realização de casamentos em seu reino, com o objectivo de formar um grande e poderoso exército. Cláudio acreditava que os jovens se não tivessem família, alistariam-se com maior facilidade. No entanto, um bispo romano continuou a celebrar casamentos, mesmo com a proibição do imperador. Seu nome era Valentim e as cerimônias eram realizadas em segredo. A prática foi descoberta e Valentim foi preso e condenado à morte. Enquanto estava preso, muitos jovens jogavam flores e bilhetes dizendo que os jovens ainda acreditavam no amor. Entre as pessoas que jogaram mensagens ao bispo estava uma jovem cega: Asterias, filha do carcereiro a qual conseguiu a permissão do pai para visitar Valentim. Os dois acabaram apaixonando-se e milagrosamente a jovem recuperou a visão. O bispo chegou a escrever uma carta de amor para a jovem com a seguinte assinatura: “de seu Valentim”, expressão ainda hoje utilizada. Valentim foi decapitado em 14 de Fevereiro de 270.

*Pequena curiosidade para quem não sabe: hagiografias são as biografias dos santos.*

Pois bem... Como eu nunca perco a oportunidade de utilizar datas comemorativas para fazer eventos especiais no Coruja, é claro, óbvio e ululante que não poderia deixar a data passar em branco.

Aos nacionalistas, não se preocupem... No Santo Antônio, fazemos outro especial.

Em todo caso... Passei as três últimas semanas - desde que recebi um email da Ísis, para dizer a verdade - esquentando a cabeça sobre o que eu deveria fazer para a data. Minha idéia, inicialmente, era escrever uma história curta, original, para dar aos meus leitres de presente... mas a falta de tempo ocasionada por janeiro infernal me impediu de levar tais planos adiante.

Excluída a possibilidade do conto original, fiquei pensando com meus botões sobre o que fazer. Até que finalmente me dei conta da resposta óbvia que estava o tempo todo na minha cara...

Poesia.

Eu vim descobrir dia desses que gostava de poesia... quando estava escrevendo um artigo para o Coruja, inclusive. Quer dizer, eu sempre meio que gostei de poesia, mas nunca me dei conta desse fato até perceber que entre meus autores favoritos existia uma série de poetas.

Todos concordamos que sou uma pessoa confusa, então, não vamos discutir o quão absurda é a afirmação acima.

Em todo caso... Como poetisa, eu sou... abismal. Sério. Se me pedirem para fazer uma rima neste exato momento, eu provavelmente falarei que pé combina com chulé. Sendo assim, não vou expô-los às minhas frustradas tentativas de fazer poesia, que remontam uns seis, sete anos atrás.

Sim, eu também tive minha fase de poetisa... Não, eu me recurso a mostrar os poucos poemas que escrevi nessa fase.

Este é o momento em que você pergunta "Ok, José, e agora? Você diz que a resposta é poesia, mas que não vai mostrar seus poemas. Então, o que cargas d'água tu tá aprontando, sua pessoa insana?" (necessário usar um sotaque de matuto na última parte da pergunta).

E eu respondo "muito simples, Manoel. Eu vou compartilhar com vocês meus poemas favoritos, num equivalente virtual a dar caixas de chocolate e flores".

Assim, de hoje até sexta que vem, dia 12 (porque viajo na sexta para Gravatá e, por conseqüência, não estarei aqui no dia 14...), vou brindá-los com alguns dos meus poemas favoritos, junto aos meus comentários absolutamente desnecessários acerca deles.

Não é romântico da minha parte?

Começo hoje ese especial com o único poema que sei declamar, do começo ao fim, de memória. Minha mãe me fez decorar As flô de Puxinanã, de Zé da Luz, quando eu tinha uns seis para sete anos, para apresentar numa festa de São João na escola.

Não cheguei a declamá-lo na ocasião, não me lembro exatamente porquê. Talvez pelo fato de que a história dos dois 'cuscús' não seja exatamente indicada para crianças...

O fato é que, mais de uma década depois, a cadência desta poesia continua na minha cabeça, sem qualquer esforço da minha parte. Volta e meia, as flores de Puxinanã voltam à mente e descubro que continuo conseguindo ir do começo ao fim sem hesitar sequer uma vez.

E, se você ficar na dúvida sobre onde está o romance desta poesia... bem, primeiro, Zé da Luz é conhecido como o Poeta do Absurdo e, por aí, você já começa a tirar a que ele veio... e, segundo... a história do poema envolve um quadrilátero amoroso com três irmãs e termina numa nota 'shakespeareana', no melhor estilo 'Romeu, Romeu, onde tu estás, Romeu...'

Agora, chega de conversa mole. Eu lhes apresento... Zé da Luz.

As flô de Puxinanã

Três muié ou três irmã,
três cachôrra da mulesta,
eu vi num dia de festa,
no lugar Puxinanã.

A mais véia, a mais ribusta
era mermo uma tentação!
mimosa flô do sertão
que o povo chamava Ogusta.

A segunda, a Guléimina,
tinha uns ói qui ô! mardição!
Matava quarqué critão
os oiá déssa minina.

Os ói dela paricia
duas istrêla tremendo,
se apagando e se acendendo
em noite de ventania.

A tercêra, era Maroca.
Cum um cóipo muito má feito.
Mas porém, tinha nos peito
dois cuscús de mandioca.

Dois cuscús, qui, prú capricho,
quando ela passou pru eu,
minhas venta se acendeu
cum o chêro vindo dos bicho.

Eu inté, me atrapaiava,
sem sabê das três irmã
qui ei vi im Puxinanã,
qual era a qui mi agradava.

Inscuiendo a minha cruz
prá sair desse imbaraço,
desejei, morrê nos braços,
da dona dos dois cuscús!



A Coruja


Arquivado em

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4 comentários:

  1. Em minha defesa, fazia tempo que eu não tinha tempo para comentar quaisquer blogs no pc. O capítulo 5 de Ases ficou muito divertido, aliás... A química que está rolando entre os personagens está muito boa.

    Eu só conhecia Ai se Sesse de Zé da Luz (que todo mundo que conhece Cordel do Fogo Encantado já ouviu pelo menos uma vez), mas essa poesia também é muito massa! Foi uma idéia interessante colocar poesias no blog em homenagem ao dia dos namorados... O máximo que eu fazia nessa época era comprar chocolates e dividir com amigas e amigos encalhados =P

    Até a próxima o/

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  2. Elri da poesia.
    Não comentei pq não tive tempo de ler inteiro, mas indiquei pra minha melhor amiga/quae irmã.

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  3. Zé da Luz é um poeta que, qualquer dia desses ganhará um post inteiro para comentar dele...

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