26 de outubro de 2009

Yamato Nadeshiko Shichi Henge





Yamato Nadeshiko é uma expressão japonesa que se refere a algo como "a mulher japonesa ideal", uma que possui todas as graças tradicionais, considerada desejável do ponto de vista masculino.

Na minha opinião, é uma expressão extremamente tola e sexista. Mas não é sobre isso que eu vim falar hoje e sim sobre o anime Yamato Nadeshiko Shichi Henge (algo como "a tranformação em uma dama" ou coisa do tipo), da mangaká Tomoko Hayakama. O mangá começou a ser lançado em 2000 (uau, nove anos de história... pobres leitores) e o anime saiu na TV japonesa entre outubro de 2006 e março de 2007.


É difícil classificar exatamente o que seja Yamato, mas eu creio que a palavra bizarro seja uma boa tentativa. Não se enganem com a conotação da palavra, contudo; quando digo bizarro aqui, é em um bom sentido - excelente, na verdade.

Eu não me lembro qual foi a última vez que assisti uma série com mais de dez episódios de uma sentada só. Ou quando foi a última vez em que ri tanto - rir a ponto de chorar. A história é extremamente divertida, diferente de qualquer romance juvenil que se pudesse esperar por se tratar de um shoujo. Talvez fosse de se esparar, já que o diretor da série é o mesmo de Excel Saga (mais bizarro que esse, acho que nunca encontrei...).

Em todo caso... A história de Yamato gira em torno de Nakahara Sunako, começando através de uma das reminiscências dela: o momento em que ela se declarou para seu grande amor na época em que estava no fundamental e recebeu como resposta um "eu detesto garotas feias".

Esse momento determinou todo o resto da vida de Sunako... Após ter sido tão cruelmente repelida, ela decidiu que era uma "criatura das trevas" e passou a cultivar um gosto obsessivo e solitário com tudo o que se possa pensar de macabro: o quarto dela é decorado como uma câmara de torturas, com esqueletos e modelos anatômicos (que são, aliás, seus melhores amigos); ela tem uma coleção de filmes de terror capaz de deixar qualquer um louco; é apaixonada por Jason e Freddy Krueger e possui uma aura tão maligna que não apenas aterroriza meio mundo, como também faz explodir lâmpadas, estilhaçar janelas, entre outras coisas sinistras.

Para tentar mudá-la, entra em cena sua tia, a dona de uma pensão (na verdade, uma grande e brilhante mansão) que abriga quatro belos rapazes. A mulher decide fazer um acordo com seus pensionistas: eles devem transformar Sunako numa dama e então o aluguel deles será de graça.

A tia é outra personagem completamente louca. Viúva, rica, belíssima e super-segura de si, ela simplesmente larga a sobrinha sozinha com os quatro rapazes e sai numa viagem ao redor do mundo para encontrar seu "grande amor".

Eis então que nos são apresentados os pobres coitados que aceitaram o desafio (obviamente, quando primeiro foi feito o acordo, eles não faziam idéia de como Sunako era): Takano Kyohei, Oda Takenaga, Toyama Yukinojo e Morii Ranmaru.

Os quatro são aquilo que os japoneses chamam de bishounen - garotos extremamente bonitos. Ranmaru é o "playboy", sempre atrás de uma mulher mais velha (e, às vezes, casada); Yuki, o mais andrógino dos quatro, é também o mais gentil e costuma ser freqüentemente confundido com uma garota. Takenaga é o que se pode definir como o tipo cool, de família extremamente tradicional, estudioso, um pouco anti-social.

Por fim, temos Kyohei que, por assim dizer, é o líder do quarteto, considerado o mais bonito deles - e, por sinal, o que mais se mete em problemas. Kyohei não consegue manter um emprego porque costuma ter sempre seus chefes o assediando (sejam eles homens ou mulheres); e é seqüestrado diversas vezes durante a série (numa das quais tentam leiloá-lo...). Embora seja belo como um anjo, é egoísta, comilão, violento, malcriado...

Para Sunako, os quatro são "criaturas da luz"; muitas vezes ela se refere a Kyohei como "a criatura brilhante". Toda vez que eles chegam muito perto, ela acaba com uma massiva hemorragia pelo nariz (a ponto de eu me perguntar como ela não morreu por perda de sangue durante a história...), fato que nosso encrenqueiro de plantão costuma utilizar muito em seu benefício.

Durante a maior parte da história, Sunako é retratada em formado SD (super deformed), totalmente caricatual, sendo constantemente carregada pelos garotos como se fosse uma boneca sempre que entra em choque... ou um chaveiro... Contudo, nos momentos em que suas crenças são colocadas à prova, ela se transforma numa bela garota, elegante e, no mais das vezes... repleta de sentidos assassinos!

Sunako e Kyohei passam grande parte da série brigando - os dois são teimosos e excelentes lutadores. Ele está sempre enchendo a paciência dela para que ela cozinhe para ele - a garota é uma excelente dona-de-casa e os garotos adoram sua comida. Uma das cenas mais engraçadas é do capítulo em que eles se desafiam no pingue-pongue... Uma batalha simplesmente imperdível!

Há várias homenagens a filmes de terror em meio à história - não é preciso ir muito longe para reconhecer a aparência de Sunako como da criatura de O Chamado, ou enxergar alguns de seus movimentos como importados diretamente de O Exorcista. Com a faca, na cozinha, somos lembrados imediatamente de Pânico e até mesmo Tubarão faz uma aparição especial.

Não esperem, contudo, que Sunako se transforme numa dama... Ou que ela e Kyohei possam ser encarados como um casal comum. O mangá não terminou ainda e o anime deixa a história um tanto em aberto (o que me faz lembrar do final de Ouran).

Eu poderia comparar ainda a história com os clássicos Pigmalião, de Shaw e o imortal My Fair Lady... Ao final das contas, Yamato não deixa de ser uma forma de recontar essas mesmas histórias. A grande sacada da autora foi ter feito seus personagens com personalidades tão fortes, tão diferentes do comum. Você nunca sabe bem o que esperar na seqüência de bizarrices que é viver com uma garota que trata cérebros em formol como bichinhos de pelúcia e tem uma coleção de armas medievais (e serras elétricas) debaixo da cama.

Enfim, vale à pena conferir. A trilha sonora também é deliciosa - Slow, o tema de abertura, cantado por Kiyoharu (aliás, o nome do personagem Kyohei é por causa desse cantor) tornou-se uma constante na minha playlist.

Além disso, o traço da Tomoko é bonito, maduro, realmente interessante. Eu ainda não tive oportunidade de ler o mangá, mas folheei pela internet algumas páginas e fiquei verdadeiramente encantada. Entrou para a minha lista de favoritos!


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A Coruja


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