28 de setembro de 2009

O prazer de escrever cartas



Recife, 28 de setembro de 2009




Querido leitor,




Dando uma pausa no meu renovado furor criativo, quero escrever hoje sobre o ato de escrever cartas.


O que é um tanto irônico a se considerar que o correio estava oficialmente de greve até hoje e que só agora eu posso começar a esperar que meus cartões de aniversário cheguem. E que geralmente, depois de postar uma carta, eu escrevo um email para o fulano para avisar que mandei carta e pedir que ele me avise quando ela chegar.

Mas isso são apenas detalhes.

Gosto imensamente de escrever cartas. Tenho um caderno de papel de carta (não, não significa papel de carta daqueles cheios de flores - embora eu tenha desses também para as devidas ocasiões - mas de papel próprio para carta, sem linha, um pouco mais fino que o sulfite e, no meu caso, azul), nunca faltam envelopes de todos os tamnhos na minha gaveta e tenho um pacote de selos de um centavo para postar cartas sociais.


*Serviço de utilidade pública*

Vocês sabiam que existe um tipo de carta chamada "Carta Social" que você posta por R$ 0,01? Bem, se não sabiam, sabem agora. Existem alguns pré-requisitos para mandar carta social (como tamanho do envelope e peso da carta), mas é coisa bem simples.


Os porteiros do meu prédio acham até uma certa graça. A única pessoa do prédio que recebe cartas com regularidade - e aqui não estou falando de propaganda nem contas - sou eu.

O fato é que escrever e receber cartas é algo que se tornou bastante obsoleto com o crescimento e disseminação da internet. Hoje em dia, todo mundo tem email e página na web, até a carrocinha de cachorro-quente da esquina. A carrocinha do Rufino, que fica na frente do colégio onde estudei, tem comunidade no orkut (e bastante badalada).

Para quê, então, esperar duas semanas - entre você mandar sua carta, a pessoa receber, redigir uma resposta e te mandar de volta - quando você pode ter o imediatismo de email, bate-papo, skype, msn e o escambau?

Há algo de muito pessoal em cartas. Não digo isso no sentido de privacidade - embora também seja um significante válido -, mas no ritual que existe por trás de se manter uma correspondência.

Compor uma carta exige uma certa atenção... você gasta um pouco de tempo escrevendo, páragrafo a parágrafo, de forma mais ou menos coerente. Aqui, nada de abreviaturas e escrever axim - ou seja lá como estão escrevendo hoje em dia.

Por um instante, toda sua atenção está concentrada no receptor da sua carta, e não nas inúmeras janelas que continuam a pipocar na tela do seu computador. Isso demonstra uma certa consideração; talvez até afeto ou, ao menos, um passional desafeto (porque ninguém vai escrever cartas para quem odeia, a não ser que o odeie passionalmente e... estou fazendo algum sentido?).

Cartas se guardam. Algumas, para sempre. Elas são pedaços tangíveis de lembranças; memórias felizes e outras nem tanto. A diferença de uma carta para um email é como a diferença de um e-book para um livro.

Eles têm substância. São absolutamente reais.

Na teoria, isso pode parecer um bocado de baboseira. E não tiro a razão de vocês se assim o acharem. Mas eu tenho bons motivos para gostar de cartas. E de guardar cartas.... e cartões de natal.

Tenho o cartão que recebi dos meus pais em 1989, às vésperas do nascimento do meu irmão. Ali, minha mãe tentou explicar as mudanças que estavam vindo e sobre como eu deveria amar a pessoa que em breve estaria conosco.

Ainda que nem sempre ele seja a mais amável das criaturas...

Tenho cartas que recebi de uma tia muito querida que por anos, morou conosco. Ela me escreveu às vésperas de se casar, contando como tinham sido aqueles anos ao meu lado. Essa carta é de 92.

Tenho os cartões que meu pai mandou nos seis meses em que ficamos todos separados, quando estávamos para nos mudar para o Recife, ele aqui; eu, a mãe e Felipe em Campo Grande.

Tenho as cartas que recebi dos leitores de Hades, nos primeiros anos da Silverghost. Cartas que selaram amizades ao longo de todo o país. Cartas que me levaram a conhecer a Belle, a Dynha, a Tha... que me ligaram a Ísis, a Ana, Régis, Juju...

Todas as cartas que já recebi - até aquelas cheias de mágoa de histórias que não me cabe contar aqui - todas elas tenho guardadas e todas me fazem pensar com imenso carinho nas pessoas que as escreveram... mesmo aquelas com quem não tenho oportunidade de continuar me correspondendo.

Talvez as cartas estejam fadadas à extinção. Mas eu continuarei a escrevê-las assim mesmo, nem que seja para ser do contra. Por que cada uma delas são uma peça importante no meu baú de memórias.

E eu vou parar por aqui antes que eu diga mais alguma coisa terrivelmente piegas. Espero ansiosamente por sua resposta!


Beijos,

A Coruja


Arquivado em

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3 comentários:

  1. Ahhh!!! Eu amo cartas! Eu me lembro dos tempos da Família Perversa, que todo mundo mandava carta para todo mundo! Era uma felicidade tão grande!!!

    As cartas não vão morrer, eu acho. Elas são como o Cinema depois que a TV foi criada: Por mais que seja mais rápido você ligar a TV da sala para ver um filme, vê-lo no cinema tem muito mais sentido e emoção! =)

    A propósito! Ainda não respondi sua carta porque ainda não a recebi! Como nós nos mudamos no interím dela chegar, os porteiros do condominio ficaram de guardar a correspondencia, mas pelo que parece não fizeram isso... ;________________________________________________;



    Milhões de beijos!!! E que nós nunca paremos de nos corresponder! =)

    Belle Lolly

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  2. Sorte a sua, Lulu, que ainda tem com quem partilhar cartas.
    Já eu aqui, bem posso mandar, mas tudo o que recebo é spam por e-mail. Se não fosse o correio oficial de associações, conservatório e afins, minha caixa de correio vivia à míngua.

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  3. Siiiiiiiiiiiiiiiiiiiim! escreveremos carta ateh morrer nem q seja pra sermos do contra. to contigo! XD
    Pq sao realmente mais especiais q emails (se bem q ha emails q merecem espaco no coracao tb... mas, em termos gerais, cartas valem mais.
    bjos!

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